Durante um bom tempo atuamos na cadeia produtiva do boi como consultor ou executivo, fazendo planejamento e assessorando na organização de feiras nacionais e internacionais. O boi constitui uma das cadeias produtivas mais importantes do País, formada por vários setores: pecuária, frigoríficos, couro, calçados, artefatos, estofamentos, cápsulas para remédio, grandes redes de varejo e pequenos supermercados – “… e do boi se aproveita até o berro”. Nossos estudos mostram que essa cadeia necessita ser repensada.
A prática vigente, de que todo setor de boa rentabilidade tende a se concentrar, vai ficar no passado, em razão das novas tecnologias e do avanço da globalização após o fim da Guerra Fria. Tem crescido entre os pecuaristas essa consciência.
Os frigoríficos, nos últimos anos, concentraram-se em pouco mais de dez empresas. Foi ótimo para a cadeia produtiva, diminuiu a mortalidade no setor, deu segurança aos pecuaristas e melhorou a qualidade dos produtos. Aconteceu porque a esfera da pecuária é grande e fragmentada, o que tem dificultado a criação de lideranças nacionais, apenas regionais. O dos frigoríficos é formado por número pequeno de empresas, permitindo a concentração e a determinação de preços.
As mudanças no ambiente das corporações vêm ocorrendo e o processo continuará a acontecer. Uma das opções para o setor da pecuária é se organizar de forma profissional, através de cooperativas ou associações; e os grandes produtores, criarem internamente um setor voltado para o mercado internacional – algo que já acontece com o café.
Há outras possibilidades, que vão do âmbito regional ao internacional: cresce hoje o segmento das butiques; as redes de varejo buscam parcerias; podem-se criar alianças estratégicas entre empresas; além da verticalização dentro e fora do País.
O que não se pode mais é continuar pensando até a porteira. Não há mais necessidade de ir a feiras, estas podem ser criadas no mundo virtual, é possível fazer vendas diretas. Há muitas formas de os pecuaristas melhorarem a sua rentabilidade, desde que se organizem. Isso hoje é uma questão de sobrevivência, devido ao alto custo de produção e à incerteza dos mercados. Não se pode ficar apenas com a opção de vender para os frigoríficos.
Hélio Mendes
Consultor de empresas, foi secretário na área de planejamento e meio ambiente da cidade de Uberlândia/MG; é professor em cursos de pós-graduação e da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG e membro do Instituto SAGRES – Política e Gestão Estratégica Aplicadas, em Brasília. Publicou mais de 1.500 artigos.