Por Hélio Mendes
A Ilusão da Infalibilidade
Existe um dito popular que afirma: “Só o Papa é infalível” — e mesmo isso é motivo de debate. No entanto, ao longo da minha trajetória como conselheiro e consultor, encontrei inúmeros empresários, conselheiros e CEOs que agem como se fossem. Muitos escondem suas falhas e inseguranças, como se mostrar vulnerabilidade fosse um sinal de fraqueza.
Essa postura cria um efeito cascata: a cultura da perfeição se espalha por toda a organização, sufocando a criatividade e impedindo a inovação.
“Não me tragam problemas…” — Um mantra perigoso
Em diversas empresas, ouve-se com frequência uma frase aparentemente motivadora:
“Não me tragam problemas, tragam soluções.”
Embora pareça proativa, essa expressão é, na verdade, um dos maiores inimigos da inovação. Em uma gestão de alto desempenho, o primeiro passo para resolver qualquer desafio é reconhecer o problema. Existem profissionais excepcionais em diagnosticar falhas — e outros em encontrar saídas. Ambos são indispensáveis.
Desvalorizar quem aponta os gargalos operacionais ou estratégicos é comprometer o aprendizado, a evolução e, consequentemente, os resultados da empresa.
Emoções: passivo ou ativo estratégico?
Outro erro recorrente nas altas lideranças é tratar as emoções como obstáculos ou ameaças. Muitos executivos ainda veem o emocional como um passivo organizacional, quando, na verdade, ele é um ativo estratégico.
As emoções humanas criam vínculos, geram empatia e fortalecem o senso de pertencimento. Ignorar esse aspecto é perder a capacidade de liderar pessoas — reduzindo a liderança a uma simples gestão de processos.
IA e o risco da desumanização
Com o avanço exponencial da Inteligência Artificial, surge um novo desafio: não permitir que a tecnologia apague nossa sensibilidade. As interações humanas estão cada vez mais mediadas por algoritmos, e isso pode tornar as relações frias, automáticas e desprovidas de conexão real.
Mais do que nunca, é urgente uma revolução humana nas empresas. Resgatar aquilo que nos torna únicos: gente.
Um filme, uma lição
Para quem ocupa cargos de liderança, deixo uma sugestão simbólica e atual:
Assista (ou reassista) Tempos Modernos, de Charlie Chaplin.
Mesmo lançado em 1936, o filme continua sendo uma crítica contundente à mecanização do trabalho e à perda da humanidade nas organizações. Em plena era da IA, ele segue como uma advertência poderosa sobre os riscos de substituir pessoas por engrenagens.
Hélio Mendes – Palestrante, consultor empresarial e político, autor dos livros Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa. Conselheiro certificado pelo IBGC e ex-Secretário de Planejamento e Meio Ambiente de Uberlândia/MG.