Por Hélio Mendes – Instituto Latino
A geopolítica, frequentemente tratada como um tema emergente, possui raízes muito mais antigas do que se imagina. O conceito foi formulado no início do século XX pelo cientista político sueco Rudolf Kjellén, inspirado na obra Politische Geographie (1897), de Friedrich Ratzel. Desde então, o campo evoluiu de uma visão essencialmente territorial para uma disciplina estratégica complexa, moldada hoje por tecnologia, dados, cadeias produtivas globais e novos atores de poder.
No pós-Segunda Guerra Mundial, o mundo foi dividido entre dois polos dominantes: Estados Unidos e União Soviética. O equilíbrio entre essas potências, sustentado pela dissuasão nuclear e pelo medo mútuo, estruturou a ordem internacional conhecida como Guerra Fria. Com o seu fim, instalou-se uma crença global na hegemonia liberal, no avanço contínuo da democracia e na promessa de prosperidade da globalização. Essa era, contudo, chegou ao fim.
Vivemos agora um período de retorno da geopolítica não mais restrita a tanques, fronteiras e diplomacia formal, mas manifestada em formatos híbridos, digitais e imprevisíveis. Conflitos diretos, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, e tensões persistentes no Oriente Médio, como a escalada entre Hamas e Israel, reacenderam discussões sobre soberania, influência regional e o uso estratégico da força. No plano econômico, a disputa estrutural entre China e Estados Unidos pela supremacia tecnológica, produtiva e energética redesenha alianças e dependências em todos os continentes.
O Brasil, entretanto, permanece excessivamente voltado para suas crises internas e reage com atraso aos movimentos externos. As recentes taxações impostas pelos EUA são um exemplo claro dessa vulnerabilidade. A nova geopolítica não se limita a fronteiras militares: ela envolve capacidade de antecipar rupturas tecnológicas, reposicionar cadeias produtivas, entender transições energéticas e dominar fluxos informacionais que moldam o poder contemporâneo.
Sair do casulo é urgente. O mundo real está sendo redesenhado e quem não compreender essa nova cartografia do poder corre o risco de se tornar apenas espectador da história, sem voz nem protagonismo no futuro que se aproxima.
Hélio Mendes – Palestrante, consultor empresarial e político, autor do livro Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa. Com curso pelo IBGC e ex-Secretário de Planejamento e Meio Ambiente de Uberlândia/MG.








