Por Hélio Mendes
Em um cenário de mercados instáveis, transformação tecnológica acelerada e consumidores cada vez menos previsíveis, muitas empresas brasileiras encontram-se estagnadas. A lentidão na revisão de modelos de gestão e a permanência de estruturas do século passado revelam um desalinhamento profundo entre prática corporativa e realidade competitiva. Nesse contexto, ganha força a abordagem do Oceano Azul, criada por W. Chan Kim e Renée Mauborgne, professores do INSEAD e referências globais em estratégia.
A teoria, que propõe a criação de novos espaços de mercado onde a concorrência se torna irrelevante, ressurge com vigor na era da Inteligência Artificial. A nova dinâmica dos mercados exige correções contínuas na estrutura organizacional, decisões mais rápidas e a reconstrução do valor entregue ao cliente. Organizações presas à lógica tradicional dificilmente conseguirão acompanhar esse ritmo.
Nosso primeiro contato com os autores ocorreu em 2005, no lançamento do livro em São Paulo, durante seminário da HSM. Naquele momento, ambos já alertavam para a urgência de um novo pensamento estratégico, capaz de romper com padrões enrijecidos e preparar as corporações para ciclos de maior complexidade.
A partir desse encontro, passamos a aplicar a metodologia do Oceano Azul em diferentes setores — com destaque para a indústria do couro — alcançando resultados expressivos. Empresas que adotaram integralmente essa abordagem conseguiram reposicionar portfólios, atualizar propostas de valor e ampliar mercados em períodos de grande incerteza.
Com base nessa experiência, acadêmica e prática, desenvolvemos duas metodologias apresentadas no livro Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa, no qual a Matriz de Valor do Oceano Azul atua como eixo central. Trata-se de um instrumento crucial para orientar organizações que precisam romper a estagnação e construir caminhos competitivos sustentáveis.
Apesar de alguns setores parecerem paralisados, a verdade é que o mundo empresarial está avançando — e mais rápido do que antes. As metodologias que nortearam o século XX já não respondem aos desafios atuais. As maiores empresas do mundo mudaram, seus modelos de negócio evoluíram e o perfil de todos os setores está sendo redesenhado pela tecnologia, por novos hábitos de consumo e pela pressão global por eficiência.
Enquanto parte da sociedade permanece presa a narrativas políticas estéreis, as organizações que olham para a estratégia de forma contemporânea seguem expandindo fronteiras. A estagnação não é inevitável; falta apenas coragem para revisitar o modelo mental que orienta as decisões corporativas.
Hélio Mendes – Palestrante, consultor empresarial e político, autor do livro Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa. Conselheiro com curso pelo IBGC e ex-Secretário de Planejamento e Meio Ambiente de Uberlândia/MG.








