Na literatura empresarial, commodities são definidas como produtos básicos, de baixo valor agregado, cuja vantagem competitiva está centrada em escala, eficiência operacional e capacidade logística. É o caso de pilares do agronegócio brasileiro como soja, milho, café, carne, couro, leite e minérios base essencial da economia nacional.
Tradicionalmente, o conceito está associado a matérias-primas padronizadas, intensivas em mão de obra operacional e com pouca diferenciação estratégica. São produtos negociados nas bolsas de valores e respondem por cerca de 65% das exportações do país, sustentando a balança comercial e consolidando o Brasil como potência produtiva global.
Contudo, existe um olhar mais contemporâneo e provocador sobre o termo. Em mercados competitivos, até mesmo produtos e serviços de alto valor agregado podem se transformar em commodities. Isso acontece quando todos entregam o mesmo e a disputa se reduz ao preço. Nessa dinâmica, a inovação se dilui, a diferenciação desaparece e o sofisticado vira comum.
É nesse cenário que a estratégia do Oceano Azul revela sua força. Quando todos competem em um “oceano vermelho” saturado, agressivo e com margens reduzidas — a verdadeira vantagem está em criar novos espaços de mercado, onde a concorrência se torna irrelevante. Inovação, diferenciação e narrativa estratégica substituem a lógica puramente operacional.
Setores que adotaram essa abordagem colhem resultados expressivos. No agronegócio, entretanto, o caminho é mais desafiador. Ainda predomina a cultura do foco “até a porteira”, em que eficiência técnica e certificações ocupam o lugar do pensamento estratégico. Esse viés operacional, embora importante, muitas vezes limita a inovação e reforça o ciclo clássico da comoditização.
Romper essa lógica exige mais do que produtividade e tecnologia. É fundamental integrar estratégia, propósito, posicionamento, marca e valor percebido. O campo, a indústria e os serviços precisam olhar além da produção e enxergar o consumidor, a experiência, a reputação e a diferenciação como ativos estratégicos.
Transformar o previsível em singular é o caminho. Quando isso acontece, o agronegócio deixa de apenas produzir para competir e passa a liderar mercados, influenciar cadeias globais e criar seus próprios oceano azuis.
Hélio Mendes – Palestrante, consultor empresarial e político, autor de Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa. Conselheiro certificado pelo IBGC e ex-Secretário de Planejamento e Meio Ambiente de Uberlândia/MG.








