Uma das principais cadeias produtivas nacionais, a do boi, corre risco de entrar em colapso, por falta de uma estratégia que contemple todos os seus elos.
Por não possuírem estratégia setorial, os pecuaristas consideram seus clientes, os frigoríficos, como vilões. O setor da pecuária é fragmentado, desunido e com lideranças cuja vaidade predomina sobre o pragmatismo. Grande parte só tem visão até a porteira. Acreditam que basta produzir com qualidade – e a maioria, apesar de ter um bom patrimônio, não vive bem, comparando com os empresários urbanos.
E ainda acreditam que tudo é ciclo. Porém, não é apenas isso. O mercado não é só resultado de oferta e demanda do consumidor final, há de se considerar o controle exercido por clientes externos, que têm mais poder e opções do que os clientes tradicionais.
O setor frigorífico, por ser menos fragmentado, fez o dever de casa: profissionalizou-se, concentrou-se e apostou na exportação. Alguns que desconhecem o jogo internacional, a vida como ela é de fato, acusam os frigoríficos de adotarem práticas de lobby muito agressivas. É importante que, quem assim pensa, passe a conhecer um pouco da história – no mundo, só os mais ágeis e ferozes sobrevivem.
O terceiro elo, o das grandes redes de supermercados, que durante muito tempo controlou o preço da carne, tornando os frigoríficos reféns, já não tem tanto poder. Levou estes últimos a se profissionalizarem e está agora fragmentado, mais do que devia. Com isso, começou a perder a rentabilidade. O setor de couro e de artefatos não levou em conta a força dos artigos substitutos.
Mas o setor frigorífico e os demais elos estão cometendo um erro estratégico: podem matar seu fornecedor, que são os pecuaristas. É bom lembrar que, quando a esperteza é demais, ela devora o esperto.
Qual o caminho menos arriscado para esta cadeia? Por parte dos pecuaristas, é preciso se unir, profissionalizar-se e diversificar, a fim de adquirir poder de negociação com os frigoríficos. E cabe a estes contribuírem para a profissionalização dos pecuaristas, para não perderem o fornecedor. O maior desafio está no varejo, onde a concorrência é cada vez mais predatória, e o caminho natural é a concentração, com a participação de parceiros externos.
Esta paisagem da cadeia do boi é também da maioria das demais cadeias produtivas nacionais: tem visão doméstica. É uma questão cultural e vivemos uma nova era nas empresas, que exige novos modelos de negócios e estratégia global.
Hélio Mendes – Autor de Planejamento Estratégico Reverso e Marketing Político Ético, consultor de empresas, foi secretário na área de Planejamento e Meio Ambiente da cidade de Uberlândia/MG. Palestrante em cursos de pós-graduação e da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG. Membro do Instituto SAGRES – Política e Gestão Estratégica Aplicadas, de Brasília.