É ingênuo acreditar que federações, sindicatos e associações priorizam os interesses nacionais em detrimento dos próprios. Assim como indivíduos tendem a pensar primeiro em si mesmos, essas instituições, em regra, defendem seus interesses antes dos coletivos.
Nos anos 1980, no auge do Japão, havia em Washington cerca de dois mil lobistas japoneses, muitos ex-funcionários do governo americano. Defendiam, de forma estruturada, os interesses de suas empresas no exterior. Seria imoral? Não. Essa é a lógica do jogo global.
No Brasil, ministros dialogam com grandes grupos econômicos enquanto esposas advogam para empresas com processos em andamento — tudo ainda no exercício do cargo. A regulamentação da atividade de lobby, prática comum em países desenvolvidos, está engavetada há décadas no Congresso. Por quê? Muitos parlamentares atuam como lobistas informais.
Quando essas práticas ultrapassam certos limites, o feitiço se volta contra o feiticeiro. É o que vemos hoje.
O país carece de lideranças com visão de Estado. E, sem elas, o jogo é desigual. Pior ainda: nossas escolas de negócios preparam jovens para um mundo idealizado, enquanto a realidade opera sob códigos mais duros e éticos apenas em aparência. Muitas empresas brasileiras não se tornam multinacionais por despreparo ou falta de coragem. Mas terão de mudar — o Brasil é o último grande território a ser dominado pelas corporações globais.
Hélio Mendes – Palestrante, consultor empresarial e político, autor dos livros Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa. Possui formação como Conselheiro pelo IBGC e atuou como Secretário de Planejamento e Meio Ambiente em Uberlândia/MG.