Em muitos processos de Planejamento Estratégico, há um momento inevitável em que a verdade emerge: o sucesso futuro da organização exige decisões difíceis. Encerrar unidades, descontinuar produtos, reposicionar estruturas, substituir executivos históricos e até se afastar de clientes tradicionais que já não geram valor. Nesse instante, não falta informação — falta coragem.
A ausência de coragem moral e estratégica é mais frequente entre CEOs e Conselhos do que se imagina. Após sessões bem conduzidas de planejamento, muitos líderes recuam diante da necessidade de implementar mudanças estruturais. Acomodações se impõem, vínculos emocionais superam a racionalidade econômica e a organização permanece presa ao passado, postergando o inevitável.
Fechar uma empresa não é, em si, o pior desfecho. O verdadeiro fracasso está em prolongar artificialmente uma operação inviável, conduzindo acionistas à insolvência e comprometendo a integridade financeira de colaboradores e fornecedores. Encerrar um ciclo exige planejamento e responsabilidade. E, antes disso, existem caminhos claros: recuperação judicial bem estruturada, alianças estratégicas, entrada de sócios capitalizados ou mesmo reinvenção baseada em inovação e tecnologia. Alternativas existem — o que muitas vezes falta é determinação para executá-las.
A reconfiguração organizacional, quando necessária, exige a substituição de líderes que moldaram a história da empresa, mas que já não refletem o futuro desejado. Esse é um dos desafios mais sensíveis da governança moderna: equilibrar legado e lealdade com meritocracia e continuidade competitiva. A maioria dos programas de desenvolvimento de liderança ainda falha em tratar a coragem como competência crítica. Contudo, diante do ambiente volátil e da transformação acelerada que vivemos, ela deixa de ser atributo desejável e se transforma em requisito essencial.
As empresas que prosperarão serão aquelas cujos CEOs e Conselhos assumirem, de forma clara e transparente, sua responsabilidade de decidir. Em tempos de rupturas tecnológicas, geopolíticas e culturais, hesitar não é prudência — é risco estratégico. Coragem, mais do que nunca, é vantagem competitiva.
Hélio Mendes – Palestrante, consultor empresarial e político.
Autor dos livros Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa.
Conselheiro certificado pelo IBGC e ex-Secretário de Planejamento e Meio Ambiente de Uberlândia/MG.








