Se ainda havia dúvidas sobre quem exerce o domínio global, elas foram dissipadas. A posse de Donald Trump evidenciou que os Estados Unidos continuam a deter uma influência mundial significativa. Na última terça-feira, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou grande preocupação e destacou o desejo da União Europeia de negociar com os EUA, alertando sobre o “perigo de uma corrida global rumo ao abismo”, em razão de potenciais aumentos de tarifas comerciais.
Se os europeus já demonstram inquietação, a situação do Brasil não deve ser diferente. Nossa fragilidade é evidente: o país encontra-se dividido, com um ministro da economia perdido em discursos inconclusivos, um presidente mais focado em articulações políticas para reeleição do que na gestão governamental – que, aliás, já chega ao terceiro ano sem apresentar um plano consistente de governo. O Congresso opera em um modelo fisiológico, enquanto o Supremo Tribunal Federal frequentemente ultrapassa suas funções judiciais, agindo como legislador e executivo.
Trump não apenas anunciou mudanças para os Estados Unidos, mas também sinalizou transformações na geoestratégia global. Caso essas alterações se concretizem, o mercado e o equilíbrio de poder mundial podem ser profundamente impactados – e o Brasil, com seu setor produtivo despreparado, enfrentará grandes desafios.
A omissão das principais federações brasileiras agrava ainda mais o cenário. Nos últimos anos, essas entidades, que deveriam contribuir para a governança nacional, mantiveram-se focadas em demandas setoriais e privilégios isolados. Agora, a conta começa a chegar.
É imprescindível que o governo e as lideranças empresariais se preparem para as turbulências dos próximos anos. Não enfrentaremos uma mera tempestade, mas um tornado de proporções gigantescas. Enquanto a águia americana deixa seu ninho para enfrentar o dragão chinês, reconfigurando a geopolítica em benefício próprio, o Brasil precisa urgentemente se posicionar estrategicamente, sob risco de ser deixado para trás.
Hélio Mendes é autor de “Planejamento Estratégico Reverso”, “Gestão Reversa” e “Marketing Político Ético”. Ele é consultor, ex-secretário de planejamento e meio ambiente em Uberlândia/MG e membro do Instituto SAGRES em Brasília.
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