As eleições no Brasil têm revelado uma crescente insatisfação do eleitorado, evidenciada pela percepção de que os políticos estão presos a um modelo autossustentável que, paradoxalmente, os isola. Esse modelo, ainda que eficaz para garantir reeleições através de manobras legislativas e recursos do fundo eleitoral, tem falhado em preservar a credibilidade, com apenas metade dos eleitos conseguido a reeleição.
No cerne das campanhas eleitorais brasileiras, observa-se uma falta de evolução estratégica e de marketing político eficaz. Não utilizam de forma profissional práticas da guerra híbrida, onde a luta pelo poder se manifesta de maneira indireta. Ela envolve desestabilização psicológica e utiliza táticas não convencionais, incluindo campanhas influentes nas redes sociais e mobilizações estratégicas de rua. Essa abordagem sutil, porém, poderosa, não envolve confrontos diretos, mas busca alcançar um objetivo similar aos conflitos entre nações, mas podem ser utilizadas nas campanhas eleitorais.
Além disso, a inteligência artificial (IA) apresenta-se como uma ferramenta emergente e transformadora nas campanhas. No entanto, a falta de conhecimento profundo em disciplinas como antropologia, sociologia e política por parte dos marqueteiros limita seu uso eficaz. Os marqueteiros frequentemente tratam o candidato como um produto e o eleitor como um consumidor, não reconhecendo que os eleitores buscam representantes que reflitam valores duradouros, desejados como legado para futuras gerações.
A IA, ainda em estágio inicial de utilização no Brasil, promete revolucionar não apenas as estratégias de campanha, mas também a forma como os eleitores interagem com a política. O acesso generalizado à tecnologia irá, inevitavelmente, ampliar a lacuna entre campanhas mais inovadoras e aquelas tradicionais.
O futuro das estratégias eleitorais no Brasil, portanto, demanda uma mudança substancial. É imperativo que as campanhas adotem uma abordagem mais sofisticada e consciente, que vai além de técnicas convencionais de marketing, abraçando a complexidade da guerra híbrida e o potencial disruptivo da inteligência artificial para verdadeiramente conectar com um eleitorado que anseia por autenticidade e mudança substantiva.
Hélio Mendes é autor de “Planejamento Estratégico Reverso” e “Marketing Político Ético”. Ele atua como consultor de empresas e já foi secretário de planejamento e meio ambiente na cidade de Uberlândia/MG. Além disso, é palestrante em cursos de pós-graduação e na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, além de membro do Instituto SAGRES – Política e Gestão Estratégica Aplicada, em Brasília.
